Não sou religioso e desta forma,
não frequento templos. Entretanto, gosto de ler e sempre aprendo alguma coisa. Estou
lendo sobre o estudante Alexandre Vannuchi Leme, jovem estudante de geologia da
USP, morto sob tortura durante o regime militar. Militante da Ação Libertadora Nacional – ALN
-, era oriundo de tradicional família
católica de São Paulo e nestas leituras tenho encontrado posicionamento de religiosos contra a ditadura e
principalmente, seus métodos medievais de tortura para se obter confissões. D.
Helder Câmara, arcebispo de Olinda e Recife, notabilizou-se durante o regime
militar pela defesa intransigente da liberdade, da democracia, dos direitos humanos
pelo fim das torturas dos opositores ao regime militar, era chamado pelos
agentes da ditadura de “ bispo vermelho” e de “ Fidel Castro de batina”.
Respeitado internacionalmente, enchia auditórios mundo afora, onde denunciava
as arbitrariedades dos militares encastelados no poder. A imprensa brasileira
era proibida de citar seu nome e nem criticas a sua atuação podiam ser
publicadas.
Certa vez, declarou:
“ Quando dou comida aos pobres,
me chamam de santo; quando pergunto por que eles são pobres, chamam-me de
comunista”.
Outro bispo que se notabilizou na luta
contra a tirania foi o Bispo de São Felix do Araguaia, D Pedro Casaldaliga, com
presença constante na defesa dos oprimidos. Como forma de denúncia, escreveu “
Salmo de São Felix do Araguaia”:
“ Livra-me, Senhor,
Do DOPS, da Oban e Codi, do SNI
Livra-me de seus conselhos de
guerra
Da ira de seus juízes e seus
guardas
Tu julgas as grandes potências
Tu és o juiz que julga os
ministros da justiças
E cortes supremas de justiça
Defende-me, Senhor, do processo
falso
Defende os exilados e deportados
Os acusados de espionagem
E de sabotagem
Condenados a trabalhos forçados
As armas do Senhor são mais
terríveis
Que armas nucleares
Os que roubam serão roubados
Mas eu cantarei a Tí
porque és justo
Cantar-Te em salmos
Em meus poemas”.
D. Paulo Evaristo Arns foi outro
que não se escondeu debaixo, durante a ditadura militar, e sempre esteve
presente, apoiando os movimentos populares de oposição e visitando com
constância os presos políticos, oferecendo-lhes apoio espiritual e o conforto
de uma amizade terna e amiga. Múltiplas passagens, encontramos a respeito da
atuação deste abnegado defensor da justiça e da liberdade de expressão,
entretanto, vamos nos ater a um trecho de sua homilia na missa realizada na
Catedral da Sé, em São Paulo, quando do translado dos restos mortais de
Alexandre Vannuchi Leme, para Sorocaba e de Frei Tito de Alencar, para
Fortaleza, cerimonia esta realizada em 25 de março de 1983:
“ Senhor, Deus da libertação, que
nos assegurais, por vossa ressureição, a certeza da vida e da vitória, nós,
aqui reunidos diante das cinzas de Alexandre e de Frei Tito, firmamos o
compromisso:
- de nunca deixar que se apague a
memória deles e de todos que foram assassinados pela repressão;
- de prossegui lutando pela mesma
esperança, com a mesma dignidade e coragem;
-de participar dos movimentos
populares, das causas por mais justiça e liberdade;
- de reforçar nossa união e
nossas ferramentas de luta;
- de servir à causa libertadora
dos oprimidos, assim como o fizeram Alexandre e Tito e o vosso filho Jesus.
Amém”.
Escolhemos estes três religiosos
com a finalidade de homenagear todos
aqueles que ousaram lutar contra a tirania e a opressão, em um período obscuro
da história politica brasileira e que alguns, teimam em querer de volta.
Poderíamos falar de D. Candido Padin e tantos outros que não se acovardaram
diante dos coturnos que mancharam de vermelho, do sangue de patriotas, o verde
de nossa bandeira.
Para finalizar, vamos de Chico
Buarque, em Sonho Impossivel:
“ Sonhar
Mais um sonho impossível
Lutar
Quando é fácil ceder
Vencer
O inimigo invencível
Negar
Quando a regra é vender
Sofrer
A tortura implacável
Romper
A incabível prisão”.