Confesso que no início, quando da
escolha de Francisco como novo papa, não me animei, principalmente em virtude
das denúncias simultâneas de que havia colaborado com a ditadura militar
argentina, fornecendo informações sobre religiosos daquele país que ousavam
contestar o regime. Estas denúncias acabaram se diluindo no tempo, não sendo
comprovadas e o Chico tem demonstrado carisma e, sobretudo, firmeza no comando
da Igreja Católica. A imprensa publica, no dia de hoje que o Tribunal Criminal
da Santa Fé determinou a prisão domiciliar do bispo polonês Josef Wesolowski,
acusado de pedofilia. Ex-embaixador da Igreja na Republica Dominicana, já havia
sido deposto de seu cargo em junho, depois de condenado por pedofilia por um Tribunal
da Santa Sé. O porta-voz do Vaticano, ao comunicar a decisão informou ainda que
o “processo foi aberto por vontade expressa do papa, para que uma questão tão
grave e delicada seja confrontada sem demora, com o rigor justo e necessário.
Foi o próprio papa Francisco que exigiu uma decisão drástica sobre o caso, o
primeiro com estas características no Vaticano”. Tempos atrás, Francisco havia
determinado que os religiosos condenados nos países onde atuavam e que se
encontravam “exilados” no Vaticano, em busca da impunidade, deveriam voltar aos
locais de origem e prestar contas a justiça. Não sabemos como evoluiu esta
questão, entretanto, a iniciativa é digna de elogios.
A postura de Francisco difere
muito do antigo bispo diocesano de Presidente Prudente, Dom José de Aquino
Pereira que em 29 de julho de 1963, encaminhou carta ao Raphael de Lucas,
responsável pelo setor de segurança da Estrada de Ferro Sorocabana, carta esta
arquivada no Fundo DOPS do Arquivo Histórico de São Paulo e com o teor abaixo:
“... aqui vão as informações
solicitadas, embora com um pouco de atraso, bem involuntário, e também com
algumas falhas, principalmente no que se refere a endereços.
... como o trabalho foi discreto,
não quis estar interrogando ninguém, justamente para não levantar suspeitas ou
mesmo, curiosidade. Vai à relação, sem assinatura e sem papel oficial meu
justamente por seu caráter reservado. Espero contribuir um pouco para completar
suas listas e, se isto fosse possível, gostaria de receber confidencialmente
outros nomes que aqui existam e que eu não conheça. Queira apresentar meus
cumprimentos aos seus dois colegas de trabalho. Quero agradecer-lhe também o
interesse tomado pelo donativo da pedra britada. Já recebi comunicado que foi
concedido. Estou agora esperando a concessão do veiculo para o pároco de
Teodoro Sampaio. Junto a minha, transcrevo a lista por ele enviada...”
E o Bispo relaciona a seguir, em
uma extensa lista, os agitadores e comunistas de sua diocese. A relação está incompleta,
entretanto, demonstra de forma cabal, a colaboração dos conservadores da igreja
católica nos preparativos do golpe militar, atuando em suas comunidades, com a
finalidade de levantar informações e subsidiar os órgãos repressivos. O que
causa estranheza nas informações prestadas pelo Bispo são as contrapartidas
oferecidas pela direção da Sorocabana por estas informações. As trinta moedas
recebidas por Judas Iscariotis para entregar Jesus, parecem ter se multiplicado
na diocese de Presidente Prudente na época, transformando-se em pedra britada e
até de um automóvel para uso de um padre. Se isto ocorresse hoje em dia, com
toda certeza seria motivo de denúncias da pratica de corrupção na autarquia,
entretanto, vivíamos o período de um dos governos de Adhemar de Barros, um dos
governadores que apoiaram os militares no dia 1º de Abril de 1964 e a pratica
da corrupção em seus governos, era visível a olho nu. Estranho, era até a
Igreja se render a famosa “caixinha do Adhemar”, em busca de benesses para seus
membros.
Eis, portanto, dois lados de uma
moeda, enquanto Francisco pugna por justiça dentro da Igreja Católica, visando
inclusive sua reabilitação e reconquista de fiéis desgarrados, garimpando
documentos do passado, vamos encontrando “coisas do arco da velha”. Poderíamos
afirmar que a atitude do Bispo de Prudente seria o início da conhecida “delação
premiada”?
Nenhum comentário:
Postar um comentário