6 de jan. de 2013

A TRISTE PROCURA DE UMA HUMILDE COSTUREIRA

A TRISTE PROCURA DE UMA HUMILDE COSTUREIRA




Julieta é o nome!

Símbolo do amor materno.

Cinco vezes mãe.

Jaime, Lúcio, Maria Lúcia, Laura e Clóvis.

Vida difícil no interior de São Paulo.

Piratininga, Agudos, Duartina, Bauru, dentre outras hospedaram esta destemida costureira, na luta pela sobrevivência.

As crianças foram crescendo... chegando na adolescência rapidamente.

Na sua região não existiam Universidades Públicas.

Somente as particulares.

Martinho da Vila fazia sucesso cantando:

“Felicidade.... passei no vestibular.. mas a faculdade é particular.... particular... ela é particular!”

Retratava a situação do filho do povo, que tinha seu acesso impedido as faculdades públicas, pois ao contrário dos filhinhos de papai, tinham que trabalhar e estudar.

Muitas vezes ajudavam do sustento da casa.

Era a época do regime militar, do qual alguns mal informados ainda dizem sentir saudades e os filhos de Julieta herdaram o espírito guerreiro na mãe e conseguiram adentrar a Universidade.

Mudaram-se para longe da mãe.... foram-se embora para Itajubá, lá nas Minas Gerais.

Jaime e Lúcio cheios de sonhos e de esperanças em futuro melhor, começaram a conhecer o outro lado da moeda.

A movimentação estudantil.

Ausência de liberdade.

Massacre de oposicionistas.

Decreto 477. AI-5. Ditadura. Fome. Desemprego. Miséria. Corrupção. Censura. Torturas. Mortes. Exílio. Banimento. Cassações. Tirania.

Acostumados a viver livres como os pássaros, em contato direto com o mundo, estranhavam que não podiam ter liberdade.

Engajaram-se nas lutas dos companheiros da Universidade.

Queriam liberdade. Democracia. Organizarem-se enquanto categoria!

1968. Congresso da Une em Ibiúna.

Todo mundo preso.

Vitória da Ditadura.

Jaime processado e condenado pelos militares de plantão.

Amava a liberdade, preso jamais iria ficar.

O PcdoB, começava a tirar seus militantes procurados pela repressão da cidade e mandá-los para o Araguaia.

Jaime resolveu ir.

Lúcio e Maria Lúcia o acompanharam.

Iriam treinar táticas de guerrilha e buscar conscientizar o povo do campo das necessidades de mudança.

Jovens acostumados à cidade, sofreram no início para se acostumarem com a rude vida no campo.

Maria Lúcia... bela mulher.

Terna e Carinhosa.

Abandonou o serviço e o magistério para acompanhar o irmão, inconformada igualmente com a triste realidade de nosso povo.

A repressão descobriu.

E o Araguaia para sempre ficou coberto com o sangue destes jovens inconformados.

Maria Lúcia depois de morta teve a cabeça decepada.

Jaime e Lúcio desapareceram nas valas comuns cavadas pelos serviçais da ditadura.

Depois de muito tempo localizaram algumas ossadas.

A de Maria foi reconhecida e entregue para a família.

Sepultura digna tem, no cemitério Jardim do Ipê, na cidade de Bauru, interior de São Paulo, onde Julieta podia ir e depositar flores para a filha amada.

Jaime e Lúcio não tiveram suas ossadas reconhecidas.

Julieta chorava a ausência.

Lê a Bíblia e encontra as palavras do Mestre....até os porcos tem direito a sepultura digna!

E seus filhos enterrados em vala comum e improvisada.

Em local incerto e não sabido.

E eram humanos.

Até quando os governantes deste país ficarão insensíveis com as dores de Julieta.

De nada adianta somente o vil metal, pago como indenização pelo desaparecimento.

Julieta tinha o desejo de reverencia-los em uma sepultura digna.

E como brasileira e mãe tem o direito de ver este desejo realizado.

Jaime e Lúcio como jovens seres humanos e, sobretudo homens que ousaram lutar pela liberdade de nosso povo, merecem e devem ter uma sepultura conhecida.

Não só eles!

Bacuri. Honestino. Rubens Paiva. Casemiro. Bergson. Oswaldão.

E todos os outros “desaparecidos” também.

Julieta partiu deste mundo sem conseguir localizar os restos mortais de seus filhos e hoje, seu corpo encontra-se junto com o da filha. Se realmente existir outro plano espiritual, temos a certeza de que Julieta concretizou seu sonho de localizar os filhos amados e continua na luta para que seus corpos tenham uma sepultura digna.

Ao seu lado e de Maria Lúcia.

Quanto a mim, quando for embora deste mundo, quero ser cremado e minhas cinzas esparramadas pelo caminho por onde transita DoceAna, para que esta não se canse de repetir, aquilo que sempre falei:

Tirania e Ditadura nunca Mais!!!!

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