15 de set. de 2013

ÚLTIMO DISCURSO DE SALVADOR ALLENDE

Neste setembro, completam-se quarenta anos da derrubada do governo popular de Salvador Allende no Chile. Reproduzir o ultimo discurso de Allende, pouco antes de seu assassinato é a homenagem que escolhemos.



“ Companheiros:

Esta será, seguramente, a ultima oportunidade em que posso me dirigir a vocês. A Força Aérea bombardeou as torres da rádio Portales e da rádio Corporación
Minhas palavras não têm amargura, senão decepção. E serão elas o castigo moral para os que traíram o juramento que fizeram.
Soldados do Chile, Comandantes do Exercito e titulares, o Almirante Merino – que se auto-designou -, mais o senhor Mendonza, general rasteiro, que ainda ontem manifestou sua solidariedade e fidelidade ao governo, também se nomeou diretor geral dos carabineiros... Ante tais fatos, só me cabe dizer aos trabalhadores: eu não vou renunciar.
Colocados em um transe histórico, pagarei com minha vida a lealdade de meu povo. E digo-lhes que tenho a certeza de que a semente que entregáramos a milhares e milhares de chilenos não poderá ser ceifada definitivamente.
Têm a força, poderão massacrar-nos, mas não se detém os processos sociais nem com o crime nem com a força. A história é nossa, e a fazem os povos.
Trabalhadores de minha Pátria, quero agradecer-lhes a lealdade que sempre tiveram, a confiança que depositaram em um homem que só foi interprete de grandes anseios de justiça, que empenhou sua palavra de que respeitaria a Constituição e as leis e assim o fez.
Neste momento definitivo, o ultimo em que posso dirigir-me a vocês, quero que aproveitem a lição. O capital forâneo, o imperialismo, unido a reação, criou o clima para que as Forças Armadas rompessem sua tradição, que lhes ensinara Schneider e que confirmara o Comandante Araya, vitimas do mesmo setor social que hoje estará em suas casas esperando reconquistar, com mãos alheias, o poder, para continuar defendendo seus privilégios.
Dirijo-me, sobretudo a modesta mulher da nossa terra, a camponesa que acreditou em nós, a operária que trabalhou mais. A mãe que soube entender nossa preocupação pelas crianças.
Dirijo-me aos profissionais liberais de nossa Pátria, aos profissionais patriotas que continuaram trabalhando contra a sedição oficiada pelos colégios profissionais, colégios de classe para defender também as vantagens da sociedade capitalista dos monopólios.
Dirijo-me a juventude, àqueles que cantaram, que entregaram a sua alegria e o seu espírito de luta.
Dirijo-me ao homem do Chile, ao operário, ao camponês,ao intelectual, aqueles que serão perseguidos, porque em nosso país, o fascismo já esteve muitas vezes presente, nos atentados terroristas, explodindo pontes, soltando linhas férreas, destruindo os oleodutos e os gasodutos, frente ao silencio dos que tem a obrigação de agir. Estavam comprometidos. A história os julgará.
Seguramente a rádio Magallanes será calada e o som tranqüilo de minha voz não chegará até vocês. Não importa. Nos seguirão ouvindo. Sempre estarei junto de vocês. Pelo menos na recordação, serei um homem digno que foi leal ao povo trabalhador.
O povo deve se defender, mas não se sacrificar. O povo não deve se deixar massacrar. Mas tampouco pode se humilhar.
Trabalhadores de minha Pátria, tenho fé no Chile e em seu destino. Superarão outros homens este momento vil e amargo, em que a traição pretende impor-se. Continuem vocês sabendo que muito mais cedo que tarde de novo se  abrirão as grandes alamedas por onde passe o homem livre para construir uma sociedade melhor.
Viva o Chile! Viva o povo! Viva os trabalhadores!
Estas são as  minhas ultimas palavras. E tenho a certeza de que meu sacrifício não será em vão.Tenho a certeza de que pelo menos será uma lição moral  que castigará a felonia, a covardia e a traição”.

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